Ontem, domingo último antes do 1° de maio, aconteceu no vigoroso espaço Cidade das Artes, no bairro da Barra da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro, a última apresentação do espetáculo “O Rei da Vela”, de José Celso Martinez Correa, conhecido como Zé Celso. Maestro fundador do Teatro Oficina, grupo de São Paulo, Zé Celso, hoje com 81 anos, remontou o espetáculo que ele próprio montara em 1967 a partir do texto do escritor Oswald de Andrade, publicado em 1937.
Trata-se de uma farsa, em três atos divididos no decorrer dos dias de Abelardo 1°, burguês que obtém lucros por meio de práticas de agiotagem nada cordiais além de ter uma fábrica de produção de velas, construída durante a falência das empresas de energia elétrica causada pela falta de pagamento das contas pela população, retrato da crise econômica da década de 30.
Ainda que fique evidenciada a força de um texto que ultrapassa, pelo primor da sua natureza, qualquer barreira do espaçotempo, característica das grandezas artísticas universais, o que já é de tamanha valia, a magia vai acontecendo aos poucos, ao tocar em pequenos pontos, em pequenas pinceladas nas cores do tropicalismo, no andar dos personagens, na voz dos personagens, no respeito despudorado, na licença para tocar em nossos defeitos, de todos aliás, não falta ninguém.
Como se não bastasse, vale destacar ainda o eterno de dois momentos: a força cênica de Heloísa de Lesbos, noiva de Abelardo 1° e símbolo da herança de uma aristocracia decadente, cujo lamento que decorre da sua incapacidade é humano, demasiadamente. E por último, o que poderia ser considerado o quarto ato, o falar do criador, do autor que ama o que faz, e fala desse amor pelo teatro, uma boa bruxaria que nos mantém irmanados em torno da arte. Finaliza com Lula Livre, aplaudido pelos presentes.
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